Por Thaís Almeida
Entender a dor do próximo,
respeitá-la e ajudar todos a terem qualidade de vida mesmo com doenças sem cura
(como a Fibromialgia e o Lúpus), esse é o objetivo da campanha do Fevereiro
Roxo, promovida pelo calendário do Ministério da Saúde.
Para ajudar neste propósito, a
Dra. Fernanda Dalprat, reumatologista e Diretora Técnica do Hospital Regional
do Litoral Norte, participou na última semana, dia 11/02, de uma live realizada
pelo colégio Dom Bosco de Caraguatatuba, via Instagram. Na ocasião, a médica
fez questão de desmitificar preconceitos sobre essas doenças e reforçar o lema
da medicina, e principalmente da reumatologia, de que “toda dor é importante e
precisa de tratamento”.
Confira abaixo as respostas dadas pela reumatologista,
esclarecendo dúvidas dos internautas:
Qual a função de um médico reumatologista?
Dra. Fernanda Dalprat - Tenho muito prazer em falar da
reumatologia. É uma área da medicina que estuda todos os tecidos conjuntivos,
ossos, articulações, tendões, músculos, ligamentos, além de doenças autoimunes,
e também dores crônicas provenientes desses tecidos e de inflamações.
O que é a Fibromialgia?
Dra. Fernanda Dalprat - É uma doença bem específica, ela não
aparece em nenhum exame. É um aumento da percepção da dor. Algumas pacientes
falam que dói do fio do cabelo até o pé, chegam entristecidas ao consultório e
eu entendo, é verdade o que elas sentem. Digo “elas”, porque a Fibromialgia
acomete muito mais mulheres do que homens – mas vale lembrar que eles também
podem ser acometidos. A Fibromialgia existe, deve ser respeitada e escutada. É
uma doença muito difícil, mas que tem tratamento, há possibilidade de se ter
uma vida normal. Entretanto, são necessárias algumas ações medicamentosas e
também não medicamentosas – depende não só do médico, mas também do paciente. É
possível ter uma vida sem dor.
Como é feito o diagnóstico da Fibromialgia?
Dra. Fernanda Dalprat - Ele é feito clinicamente. Não apenas o
exame físico, como também história clínica do paciente. É um conjunto de
fatores para chegar em um diagnóstico. É muito raro na primeira consulta
conseguir fazer o diagnóstico. Normalmente, o médico pode pedir diversos
exames, para descartar outras origens da dor crônica. É possível ainda ter Fibromialgia
e ter outra doença que também causa dor crônica – elas podem coexistir. É uma
doença que não tem cura, mas há possibilidade de ter uma vida sem dor e
saudável.
Como pode ser feito o tratamento não medicamentoso da Fibromialgia?
Dra. Fernanda Dalprat - Mais importante do que qualquer remédio, é
o exercício físico. Em todos os congressos que participo, nacionais e
internacionais, os especialistas são unanimes em dizer: o exercício físico é a
base do tratamento da Fibromialgia. Não só ele, como também a alimentação, ela
é uma das bases para o tratamento de toda dor crônica. Existem alimentos que
são pró-inflamatórios: como doces, carboidratos e gorduras. Eles ativam a
cascata de inflamação. Então, todas as doenças reumatológicas podem ser
agravadas por uma alimentação incorreta e também pela ausência do exercício
físico.
Quais exercícios podem ajudar no tratamento?
Dra. Fernanda Dalprat - O início do exercício físico é muito
difícil para todos nós. Mas para quem tem doenças reumatológicas ou autoimune, os
30 primeiros dias de exercícios físicos ou até os 60 primeiros dias são muito
piores, porque a dor pode até piorar. Neste momento, é necessário sair da zona
de conforto e lutar, porque é assim que começa a mudança para ganhar mais
qualidade de vida. O melhor exercício que tem é o que você vai fazer. Não
adianta eu recomendar caminhada, se o paciente odeia caminhada. Então, sempre
indico para que o paciente faça o exercício que realmente gosta.
A Fibromialgia está ligada à depressão?
Dra. Fernanda Dalprat - A Fibromialgia sofre muito preconceito. É
muito comum ouvirmos que as pacientes estão depressivas ou estressadas. Mas é
importante sabermos que a Fibromialgia não é sinônimo de depressão, elas podem
estar relacionadas, mas uma não é a causa da outra. Claro, que se alguém tem
dor o dia inteiro, vai ter a sua depressão piorada – caso tenha. É necessário
entender que elas podem estar relacionadas por um processo químico e físico.
Além disso, muitas vezes um paciente com Fibromialgia pode também ter que tomar
um determinado antidepressivo, porque esse medicamento também ajuda no
tratamento da dor. Porém, cada paciente é um caso, e cada dor é única.
Suplementos alimentares ajudam no tratamento?
Dra. Fernanda Dalprat - É um assunto polêmico. Na medicina baseada
em evidências ouvimos muito que alguns suplementos não melhoram o tratamento.
Mas, na prática clínica vemos que há suplementos que podem ajudar, por exemplo,
magnésio para dor crônica, ou até a vitamina D. Mas é preciso ser uma dosagem
suplementar de acordo com exames laboratoriais e indicada por um médico ou por
um nutricionista – no caso de alguns suplementos. Vale lembrar mais uma vez,
que a melhor ação é o exercício físico, e com certeza ir a um especialista. A
fibromialgia é tratada por 3 especialidades médicas: neurologistas, psiquiatras
e reumatologistas. Muitas vezes tratamos juntos, essa é a beleza da medicina: várias
especialidades trabalham juntas pelo bem do paciente.
O que é o Lúpus?
Dra. Fernanda Dalprat - É uma doença seríssima, autoimune, como se
os soldados de defesa do nosso corpo se batessem entre si – então há
necessidade de um acompanhamento médico, e muitas vezes também psicológico, além
de exercícios físicos e alimentação. É uma doença que requer muitos cuidados,
ela não ataca só as articulações (as juntas), ela ataca os órgãos e os sistemas
como um todo. Ela tem até predileção por alguns órgãos, como por exemplo, os
rins, os pulmões. Por isso, os nefrologistas são sempre nossos parceiros no
tratamento do Lúpus. Ele também não tem cura, mas tem tratamento. É uma doença muito específica, existem alguns
sinais e sintomas como dores articulares, queda de cabelo, muita fadiga, muito
cansaço, manchas faciais, doenças de pele, etc. E temos que entender que não
existe diagnóstico fácil na reumatologia. Lúpus também exige muitos exames
laboratoriais para o diagnóstico, e a maioria dos pacientes também é mulher.
Há uma explicação para a mudança de tempo afetar tanto pacientes com
Lúpus?
Dra. Fernanda Dalprat - Não
é científico, mas existem muitas doenças reumatológicas que pioram com o frio. Em
toda inflamação os músculos ficam mais rígidos e como no frio a musculatura se
contrai mais, acaba-se sentindo mais dor – essa é uma explicação mais simples
sobre isso.